quarta-feira, 3 de março de 2010


Poema da Saudade

Em alguma outra vida, devemos ter feito algo muito grave,

para sentirmos tanta saudade...

Trancar o dedo numa porta dói.

Bater o queixo no chão dói.

Dói morder a língua, cólica dói,

dói torcer o tornozelo.

Dói bater a cabeça na quina da mesa, carie dói,

pedras nos rins também dói.

Mas o que mais dói é a saudade.

Saudade de um irmão que mora longe.

Saudade de uma brincadeira de infância.

Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.

Saudade do amigo imaginário que nunca existiu.

Saudade de uma cidade.

Saudade de nós mesmo, o tempo não perdoa.

Mas a saudade mais dolorida

é a saudade de quem se Ama.

Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.

Saudade da presença, e até da ausência consentida.

Você podia ficar na sala e ele no quarto,

sem se verem, mas sabiam-se lá.

Você podia ir para o dentista e ele para a trabalho,

mas sabiam-se onde.

Você podia ficar sem vê-lo, e ele sem vê-la,

mas sabiam-se amanhã.

Contudo, quando o Amor de um acaba,

ou torna-se menor no outro.

Sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é basicamente não saber.

Não saber se ele continua fungando

num ambiente mais frio.

Não saber se ele continua sem fazer a barba

por causa daquela alergia.

Se aprendeu a entrar na internet,

se aprendeu a ter calma no trânsito.

Se continua preferindo cerveja a uísque (e qual a cerveja)

Se continua sorrindo com aqueles olhos apertados,

e que sorriso lindo.

Será que ele continua cantando aquelas mesmas musicas

tão bem (ao menos eu admirava)?

Será que ele continua fumando

e se continua adorando Mac Donald's?

Será que ele continua não amando os livros,

e ela cada vez mais?

E continua não gostando de dar longas caminhadas,

e ela não assistindo televisão?

Será que ele continua gostando de filmes de ação,

e ela de chorar em comédias.

Será que ela continua lendo os livros que já leu?

Será que ele continua tossindo cada vez que fuma?

Saber é não saber mesmo!

Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais longos,

não saber como encontrar tarefas

que lhe cessem o pensamento.

Não saber como frear as lágrimas diante de uma música,

não saber como vencer a dor de um silêncio

que nada preenche.

Saudade é não querer saber se ele está com outra,

e ao mesmo tempo querer.

É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo

perguntar a todos os amigos por isso...

É não querer saber se ele está mais magro,

se ele está mais belo.

Saudade é nunca mais saber de quem se Ama

e ainda assim doer.

Saudade é isso que senti (e sinto) enquanto estive escrevendo

e o que você (deveria) provavelmente estar sentindo

agora depois que acabou de ler.

Quem inventou a distância

nunca sofreu a dor de uma saudade!

Um comentário:

  1. Minha Amiga,
    Apesar do adiantado da hora e de algum cansaço, sempre visitei seu Cantinho, para depois voltar mais demoradamente.
    Lendo muito rápidamente gostei do que li.
    Parabéns, que Deus conduza seus passos!
    Uma noite de Paz!
    José Manuel

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